8 Gestão dos Sistemas Educacionais

De olho na qualificação dos professores: a formação continuada dos docentes é o tema prioritário para mais da metade dos secretários de Educação de todo o Brasil

Traçar um perfil de como as secretarias municipais e estaduais de Educação são geridas em todo o Brasil é fundamental não somente para compreender quem são esses gestores e como está organizada a estrutura dessas pastas, como também para conhecer suas prioridades e o que norteia as gestões subnacionais brasileiras.

Panorama da gestão dos sistemas educacionais brasileiros

A formação continuada para professores, a melhoria das condições físicas de acessibilidade nas escolas e a diminuição do abandono e da evasão escolar (por meio da busca ativa de alunos) foram elencadas por gestores de Educação municipais e estaduais como a tríade temática prioritária de suas administrações.

Por outro lado, menos de um terço desses gestores, tanto municipais (28%) como estaduais (26%), assinalou a alfabetização na idade certa como tema prioritário. A inclusão de alunos com deficiência nas escolas regulares também não se sobressaiu nessas respostas: somente 23% de gestores municipais a definiram como tema de prioridade, diante de 7% de gestores estaduais.

Quanto ao perfil, secretarias exclusivas de Educação são mais prevalentes em redes estaduais (70%) do que nas municipais (57%), enquanto, no recorte por gênero, raça e qualificação, mulheres são majoritárias (70%) na rede municipal, e pessoas negras (40%) estão mais presentes também nos municípios, mas gestores com Pós-graduação (89%) são mais comuns em redes estaduais de ensino.

Na estrutura das secretarias, enquanto 98% dos municípios têm plano de Educação, 84,6% têm colegiados extraescolares – em secretarias estaduais, esses percentuais ficam em 96,3% e 99,1%, respectivamente.

Nota:

42

Colegiados extraescolares são definidos por: Conselho Estadual de Educação, Conselhos de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb, Conselhos de Alimentação Escolar e Fóruns Permanentes de Educação.

Perfil das secretarias de Educação

Perfil das secretarias

Como estão organizadas as pastas e quem são os gestores? (em %)

Possuem secretaria
exclusiva de Educação

Possuem plano de Educação

Possuem colegiados extraescolares

A secretária de Educação é mulher

O secretário de Educação é negro

O secretário de Educação possui Pós-graduação

Municipal
Estadual

Fonte:IBGE/Munic e Estadic 2021.

Elaboração:Todos Pela Educação.

Notas:

42

Colegiados extraescolares são definidos por: Conselho Estadual de Educação, Conselhos de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb, Conselhos de Alimentação Escolar e Fóruns Permanentes de Educação.

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Secretaria exclusiva de Educação é definida quando o órgão tem status de secretaria, bem como não divide a pasta com nenhuma outra área.

Segundo o Censo Demográfico 2022, 55,5% da população brasileira é negra. Contudo, as secretarias de Educação não espelham a média nacional, com destaque para as pastas estaduais, que contam com apenas 26% de secretários negros.

Prioridades da gestão

Temas prioritários para os quais o órgão gestor da Educação esteja adotando medidas ou ações – Brasil (em %)

Municipal

Estadual

Formação continuada
////para professores

51%

56%

Melhoria das condições
//// físicas de acessibilidade
//// nas escolas

47%

41%

Diminuição no abandono e
//// evasão escolar (busca ativa
//// de alunos)

31%

52%

Elevação do desempenho
////dos alunos nas avaliações
////nacionais de larga escala

29%

48%

Alfabetização
////na idade certa

28%

26%

Uso de Tecnologias de
////Informação e Comunicação
//// (TIC) no processo de
//// ensino-aprendizagem

26%

30%

Inclusão de alunos com
//// deficiência nas
////escolas regulares

23%

7%

Ampliação da
////jornada escolar

5%

11%

Fonte:IBGE/Munic e Estadic 2021.

Elaboração:Todos Pela Educação.

Nota:

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Foram escolhidos até três temas por gestores. A tabela expõe os sete itens mais votados pelas secretarias municipais e estaduais. Ao todo, foram expostos 18 itens aos gestores.

Nos estados

Perfil das secretarias de Educação

Secretarias municipais exclusivas de Educação – por unidade da federação (em %)

Unidade da federação

2021

Unidade da federação

Brasil

2021

57

Unidade da federação

Norte

Unidade da federação

Amapá

2021

88

Unidade da federação

Acre

2021

73

Unidade da federação

Amazonas

2021

69

Unidade da federação

Pará

2021

83

Unidade da federação

Rondônia

2021

40

Unidade da federação

Roraima

2021

40

Unidade da federação

Tocantins

2021

54

Unidade da federação

Nordeste

Unidade da federação

Alagoas

2021

65

Unidade da federação

Bahia

2021

52

Unidade da federação

Ceará

2021

80

Unidade da federação

Maranhão

2021

85

Unidade da federação

Paraíba

2021

69

Unidade da federação

Pernambuco

2021

61

Unidade da federação

Piauí

2021

81

Unidade da federação

Rio Grande do Norte

2021

49

Unidade da federação

Sergipe

2021

68

Unidade da federação

Sudeste

Unidade da federação

Espírito Santo

2021

77

Unidade da federação

Minas Gerais

2021

71

Unidade da federação

Rio de Janeiro

2021

72

Unidade da federação

São Paulo

2021

58

Unidade da federação

Sul

Unidade da federação

Paraná

2021

38

Unidade da federação

Rio Grande do Sul

2021

25

Unidade da federação

Santa Catarina

2021

36

Unidade da federação

Centro-Oeste

Unidade da federação

Distrito Federal

2021

100

Unidade da federação

Goiás

2021

45

Unidade da federação

Mato Grosso

2021

40

Unidade da federação

Mato Grosso do Sul

2021

42

Fonte:IBGE/Munic 2021.

Elaboração:Todos Pela Educação.

Nota:

43

Secretaria exclusiva de Educação é definida quando o órgão tem status de secretaria, bem como não divide a pasta com nenhuma outra área.

Opinião

Princípios da boa gestão educacional

A gestão das secretarias de Educação no Brasil tem se profissionalizado, refletindo a compreensão de que, sem uma gestão competente, não se conseguirá garantir o direito à Educação de qualidade para os estudantes. Mas temos muito a fazer ainda.

Além dos aspectos sobre os quais existem indicadores disponíveis, como os apresentados neste capítulo do Anuário, é importante considerar elementos menos tangíveis, mas essenciais para uma gestão de qualidade. Neste artigo, destaco cinco pilares fundamentais para a boa gestão educacional, que busca a formulação, a implementação e a sustentação de políticas educacionais efetivas.

O primeiro pilar é o foco em solucionar problemas locais específicos, evitando a simples importação de soluções que muitas vezes são inadequadas à realidade local. É preciso realizar diagnósticos robustos que identifiquem as causas reais dos desafios enfrentados pelas escolas, permitindo a criação de políticas ajustadas às necessidades concretas de cada contexto.

O segundo ponto é a necessidade de uma visão sistêmica e coerente do sistema educacional. Compreender as interconexões entre suas partes é vital para garantir que as políticas sejam implementadas de forma integrada, sem confundir as escolas com diferentes iniciativas que não dialogam entre si.

O terceiro pilar é o desenvolvimento contínuo de capacidades estatais. As secretarias de Educação devem investir no aprimoramento constante de suas habilidades de gerir o sistema educacional e de formular e implementar políticas públicas. No Brasil, muitas ainda carecem de competências básicas. Levar em conta a capacidade existente ao se pensar uma política pública é essencial. Além disso, é preciso investir com força nas pessoas, sistemas e processos de gestão.

O quarto pilar é o engajamento de todos os atores do sistema educacional. A apropriação das políticas educacionais por gestores escolares e professores é condição necessária para a boa implementação das políticas e sua sustentabilidade. Promover isso é um grande desafio, a ser buscado de forma intencional pela gestão.

Por fim, o quinto pilar é a contínua construção de apoio e sustentação política para as ações mais estratégicas da secretaria de Educação, desde seu princípio. Isso vem de uma articulação constante e frequente com outras secretarias do governo, outros poderes de Estado (Legislativo e Judiciário), além do envolvimento da sociedade civil.

Com uma gestão profissionalizada e orientada por esses princípios, teremos mais condições para seguirmos o caminho de garantir que todas as crianças e jovens brasileiros tenham acesso a uma Educação de qualidade.

Gabriel Corrêa

Diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação

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