5 Educação de Jovens e Adultos
A escolaridade média do brasileiro entre 18 e 29 anos é de 11,8 anos de estudo, com um aumento médio de um ano entre 2013 e 2023.
Há décadas, o Brasil convive com a baixa escolaridade de sua população jovem e adulta e os efeitos imediatos disso, como o analfabetismo. Para se tentar restaurar o direito à Educação e à aprendizagem que foi, muitas vezes, negado durante a infância e a adolescência desses grupos, torna-se essencial a adoção de políticas públicas relacionadas à Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Panorama da EJA brasileira
A escolaridade média da população brasileira de 18 a 29 anos aumentou de 10,8 para 11,8 anos de estudo entre 2013 e 2023. Nessa faixa etária, cresceu, também, a proporção daqueles com mais de 12 anos de estudo: de 19,6% para 26,9%.
Já a taxa de analfabetismo funcional da população de 15 anos ou mais, embora ainda considerável, 17%, em 2023, registrou queda de 6,3 pontos percentuais na comparação com 2013. Destaca-se a queda de dez pontos percentuais, nesse mesmo período, no ambiente rural – de 46% para 36%. Em áreas urbanas, a diminuição foi menor: de 20% para 14%.
O número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos, na rede pública, caiu cerca de 34% entre 2013 e 2023: de 3,6 milhões para 2,4 milhões. A queda mais acentuada aconteceu no Ensino Médio, de 1,22 milhão para 888 mil matrículas, em 2023. No recorte estadual, as únicas unidades federativas que registraram aumento no total de matrículas, nesse período, foram Alagoas, Goiás e Piauí.
Por outro lado, cresceu 1,9 ponto percentual, de 2013 para 2023, a participação das matrículas em EJA integradas à Educação Profissional: passaram de 2,8% para 4,7% do total de matrículas, ou 106 mil para 121,5 mil.
Acesso à EJA
Matrículas em EJA
Número de matrículas na EJA por rede de ensino – Brasil (em milhões)
Ano | Rede total | Rede pública |
---|---|---|
2013 | 3.830.207 | 3.632.745 |
2014 | 3.653.530 | 3.446.332 |
2015 | 3.491.869 | 3.236.872 |
2016 | 3.482.174 | 3.273.439 |
2017 | 3.598.716 | 3.380.008 |
2018 | 3.545.988 | 3.324.356 |
2019 | 3.273.668 | 3.063.423 |
2020 | 3.002.749 | 2.826.401 |
2021 | 2.962.322 | 2.779.642 |
2022 | 2.774.428 | 2.584.998 |
2023 | 2.589.815 | 2.389.458 |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Microdados do Censo Escolar.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Matrículas em EJA
Número de matrículas na EJA por etapa e rede de ensino – Brasil (em milhões)
Ano | Total - Ensino Fundamental | Total - Ensino Médio | Pública - Ensino Fundamental | Pública - Ensino Médio |
---|---|---|---|---|
2013 | 2.504.890 | 1.325.317 | 2.409.874 | 1.222.871 |
2014 | 2.344.484 | 1.309.046 | 2.249.399 | 1.196.933 |
2015 | 2.182.611 | 1.309.258 | 2.071.573 | 1.165.299 |
2016 | 2.105.535 | 1.376.639 | 2.011.615 | 1.261.824 |
2017 | 2.172.904 | 1.425.812 | 2.084.178 | 1.295.830 |
2018 | 2.108.155 | 1.437.833 | 2.020.308 | 1.304.048 |
2019 | 1.937.583 | 1.336.085 | 1.856.194 | 1.207.229 |
2020 | 1.750.169 | 1.252.580 | 1.673.908 | 1.152.493 |
2021 | 1.725.129 | 1.237.193 | 1.651.800 | 1.127.842 |
2022 | 1.691.821 | 1.082.607 | 1.618.174 | 966.824 |
2023 | 1.575.804 | 1.014.011 | 1.501.033 | 888.425 |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Sinopses da Educação Básica.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Matrículas em EJA
Matrículas na EJA integradas à Educação Profissional, rede total – Brasil (em milhares)
Ano | Números absolutos |
---|---|
2013 | 106.008 |
2014 | 101.714 |
2015 | 106.454 |
2016 | 96.414 |
2017 | 65.250 |
2018 | 61.834 |
2019 | 53.392 |
2020 | 54.238 |
2021 | 64.945 |
2022 | 97.592 |
2023 | 121.527 |
Porcentagem em relação ao total de matrículas em EJA
Ano | Porcentagem em relação ao total de matrículas em EJA |
---|---|
2013 | 2,80 |
2014 | 2,80 |
2015 | 3,00 |
2016 | 2,80 |
2017 | 1,80 |
2018 | 1,70 |
2019 | 1,60 |
2020 | 1,80 |
2021 | 2,20 |
2022 | 3,50 |
2023 | 4,70 |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Sinopses da Educação Básica.
Elaboração:Todos Pela Educação.
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Foram consideradas todas as redes escolares para cálculo de matrículas em EJA.
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Nas sinopses da Educação Básica há uma mudança na composição das matrículas EJA integradas. Colunas EJA INTEGRADA 2013-2016:
"Curso Técnico (Ensino Médio) Integrada à EJA" - coluna 26;
"EJA Ensino Fundamental Projovem Urbano" - coluna 31;
"Curso FIC Integrado na Modalidade EJA de Nível Fundamental" - coluna 41;
"Curso FIC Integrado na Modalidade EJA de Nível Médio" - coluna 46.
Dessa forma, para os anos de 2013 a 2016, o EJA TEC do Ensino Fundamental é a soma do Projovem Urbano e FIC Fundamental (coluna 31 + 41).
Analogamente, o EJA TEC Ensino Médio é a soma das matrículas FIC com o Curso Técnico (EM) Integrado (colunas 26 + 46).
Colunas EJA INTEGRADA 2017-2023:
Passam a ser somente três categorias de matrículas integradas:
Total8 = Curso Técnico (Ensino Médio) Integrada à EJA;
Total10 = Curso FIC Integrado na Modalidade EJA de Nível Fundamental;
Total11 = Curso FIC Integrado na Modalidade EJA de Nível Médio.
Escolaridade de jovens e adultos
Nível de instrução
Escolaridade média, em anos de estudo, da população de 18 a 29 anos – Brasil
Ano | Escolaridade média |
---|---|
2013 | 10,8 |
2014 | 10,9 |
2015 | 11,1 |
2016 | 11,1 |
2017 | 11,3 |
2018 | 11,4 |
2019 | 11,5 |
2020 | 11,7 |
2021 | 11,8 |
2022 | 11,7 |
2023 | 11,8 |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2º trimestre.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Nível de instrução
População de 18 a 29 anos por anos de estudo – Brasil (em %)
Ano | 0 a 12 anos de estudo | Mais de 12 anos de estudo |
---|---|---|
2013 | 80,4% | 19,6% |
2014 | 79,6% | 20,4% |
2015 | 78,3% | 21,7% |
2016 | 77,0% | 23,0% |
2017 | 76,8% | 23,2% |
2018 | 75,4% | 24,6% |
2019 | 74,3% | 25,7% |
2020 | 72,6% | 27,4% |
2021 | 72,3% | 27,7% |
2022 | 74,0% | 26,0% |
2023 | 73,1% | 26,9% |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2º trimestre.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Nível de instrução
Taxa de analfabetismo funcional da população de 15 anos ou mais de idade – Brasil (em %)
Ano | Percentual |
---|---|
2013 | 23,3% |
2014 | 22,2% |
2015 | 21,5% |
2016 | 21,8% |
2017 | 20,8% |
2018 | 20,2% |
2019 | 19,5% |
2020 | 17,8% |
2021 | 17,0% |
2022 | 17,3% |
2023 | 17,0% |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2º trimestre.
Elaboração:Todos Pela Educação.
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O analfabetismo funcional é definido como quem não concluiu os Anos Iniciais do Ensino Fundamental ou não sabe ler e/ou escrever.
Nível de instrução
Taxa de analfabetismo funcional da população de 15 anos ou mais de idade por localização – Brasil (em %)
Ano | Rural | Urbana |
---|---|---|
2013 | 46 | 20 |
2014 | 44% | 19% |
2015 | 42% | 18% |
2016 | 42% | 19% |
2017 | 41% | 18% |
2018 | 41% | 17% |
2019 | 39% | 17% |
2020 | 36% | 15% |
2021 | 35% | 14% |
2022 | 36% | 15% |
2023 | 36% | 14% |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2º trimestre.
Elaboração:Todos Pela Educação.
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O analfabetismo funcional é definido como quem não concluiu os Anos Iniciais do Ensino Fundamental ou não sabe ler e/ou escrever.
Nos estados
Matrículas em EJA
Número de matrículas em EJA na rede pública – por unidade da federação
Unidade da federação | 2013 | 2023 | Evolução |
---|---|---|---|
Unidade da federação Brasil | 2013 3.632.745 | 2023 2.389.458 | Evolução -34,22% |
Unidade da federação Norte | |||
Unidade da federação Acre | 2013 27.630 | 2023 18.810 | Evolução -31,92% |
Unidade da federação Amapá | 2013 21.922 | 2023 13.002 | Evolução -40,69% |
Unidade da federação Amazonas | 2013 96.762 | 2023 58.166 | Evolução -39,89% |
Unidade da federação Pará | 2013 242.955 | 2023 134.431 | Evolução -44,67% |
Unidade da federação Rondônia | 2013 62.875 | 2023 18.721 | Evolução -70,23% |
Unidade da federação Roraima | 2013 9.494 | 2023 5.442 | Evolução -42,68% |
Unidade da federação Tocantins | 2013 21.446 | 2023 11.052 | Evolução -48,47% |
Unidade da federação Nordeste | |||
Unidade da federação Alagoas | 2013 98.589 | 2023 140.568 | Evolução 42,58% |
Unidade da federação Bahia | 2013 429.688 | 2023 390.802 | Evolução -9,05% |
Unidade da federação Ceará | 2013 176.767 | 2023 151.015 | Evolução -14,57% |
Unidade da federação Maranhão | 2013 177.429 | 2023 174.887 | Evolução -1,43% |
Unidade da federação Paraíba | 2013 150.492 | 2023 104.633 | Evolução -30,47% |
Unidade da federação Pernambuco | 2013 211.743 | 2023 124.060 | Evolução -41,41% |
Unidade da federação Piauí | 2013 96.444 | 2023 97.305 | Evolução 0,89% |
Unidade da federação Rio Grande do Norte | 2013 85.126 | 2023 51.893 | Evolução -39,04% |
Unidade da federação Sergipe | 2013 51.767 | 2023 36.766 | Evolução -28,98% |
Unidade da federação Sudeste | |||
Unidade da federação Espírito Santo | 2013 72.530 | 2023 38.291 | Evolução -47,21% |
Unidade da federação Minas Gerais | 2013 331.038 | 2023 165.925 | Evolução -49,88% |
Unidade da federação Rio de Janeiro | 2013 250.796 | 2023 173.820 | Evolução -30,69% |
Unidade da federação São Paulo | 2013 457.137 | 2023 217.965 | Evolução -52,32% |
Unidade da federação Sul | |||
Unidade da federação Paraná | 2013 131.838 | 2023 39.736 | Evolução -69,86% |
Unidade da federação Rio Grande do Sul | 2013 135.607 | 2023 57.563 | Evolução -57,55% |
Unidade da federação Santa Catarina | 2013 53.707 | 2023 32.459 | Evolução -39,56% |
Unidade da federação Centro-Oeste | |||
Unidade da federação Distrito Federal | 2013 47.740 | 2023 27.982 | Evolução -41,39% |
Unidade da federação Goiás | 2013 59.808 | 2023 60.559 | Evolução 1,26% |
Unidade da federação Mato Grosso | 2013 94.101 | 2023 29.629 | Evolução -68,51% |
Unidade da federação Mato Grosso do Sul | 2013 37.314 | 2023 13.976 | Evolução -62,54% |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Microdados do Censo Escolar.
Elaboração:Todos Pela Educação.
EJA: superando a desigualdade educacional e rompendo ciclos de pobreza
No Brasil, um país marcado por tanta desigualdade, a inaceitável marca de 48 milhões1 de pessoas que não concluíram o Ensino Fundamental e outros 19,5 milhões não completaram o Ensino Médio chega a parecer natural.
Apesar dos avanços evidenciados pelo aumento da escolaridade média dos mais jovens, em 2023, 9 milhões de jovens de 15 a 29 anos não estudavam e não tinham concluído a Educação Básica – o que equivale a 18,5% da população dessa faixa etária, altamente concentrados nos grupos sociais mais vulneráveis.
Na parcela mais pobre da sociedade brasileira2, 28% não estudavam ou não tinham concluído a Educação Básica em 2023. Na parcela mais rica, o índice foi de 8%. Já no recorte por raça/cor, o percentual é de 22,4% entre pretos e pardos; e de 15,8% entre brancos. Além disso, na zona rural do país o índice chega a 32,2% – o dobro da zona urbana.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) apresenta-se, portanto, como uma alternativa de máxima relevância para romper ciclos de desigualdade e pobreza que impedem a construção de um Brasil mais harmônico, próspero e sustentável.
Não são poucos os desafios para construir uma oferta de EJA consistente, contínua e adequada à diversidade da demanda. Mas os ganhos a serem obtidos com uma exitosa política de EJA podem superar amplamente a complexidade desses desafios.
Para tanto, é fundamental que a oferta de EJA:
Assegure a disponibilidade de vagas e formatos que permitam conciliar os estudos com responsabilidades familiares e laborais;
Ofereça currículos flexíveis e significativos, capazes de atrair e assegurar a permanência dos estudantes; idealmente vinculados à qualificação profissional;
Prepare professores e gestores escolares com formação específica e motivados para proporcionar a esses estudantes uma nova relação com o conhecimento, que reconheça e valorize seus saberes;
Promova a articulação e a intersetorialidade entre diferentes esferas de governo, setor produtivo, organizações da sociedade civil, mundo acadêmico, plataformas de comunicação a sociedade como um todo.
Nesse sentido, o recém-lançado Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação da Educação de Jovens e Adultos aponta na direção correta, ao comprometer o Ministério da Educação (MEC) no papel indutor da política e as redes de ensino estaduais e municipais na construção das múltiplas possibilidades de oferta atinentes a seus contextos específicos e à diversidade dos públicos que caracterizam essa modalidade de ensino.
Ana Lucia D'Império Lima
Conhecimento Social e coordenadora geral do Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional)
1. Todos os dados deste artigo são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C) 2º trimestre, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
2. 25% mais pobres: jovens em famílias com renda domiciliar per capita de até R$ 501,00 em 2023; 25% mais ricos: jovens em famílias com renda domiciliar per capita acima de R$ 1837,00, em 2023.