10 Equidade Étnico-Racial na Educação
Apenas metade (50,1%) das escolas públicas brasileiras possuía, em 2021, alguma abordagem do tema étnico-racial e projetos pedagógicos para combater o racismo.
O acesso à cidadania no Brasil ainda é racialmente segregado, e isso se reflete na Educação Básica. Ao mapear o trajeto dos alunos desde a Creche até a conclusão do Ensino Médio, a partir de um recorte étnico-racial, é possível identificar gargalos e orientar políticas públicas para facilitar o acesso e promover ajustes curriculares.
Panorama da equidade étnico-racial na Educação brasileira
No período de 2013 a 2023, em todas as redes, o percentual de crianças pretas de 0 a 3 anos matriculadas na Creche passou de 32% para 47%. Entre as pardas, esse avanço foi de 25% para 37% e, entre as indígenas, saltou de 8% para 40%. A variação entre as crianças brancas foi de 31% para 43%. No entanto, quando se analisam os motivos para a falta de matrícula, em 2023, a dificuldade de acesso é apontada como principal causa entre 26% das indígenas, 23% das pardas e 20% das pretas, ao passo que, entre as brancas, cai para 17%. Por dificuldade de acesso, entende-se escola distante, falta de vaga ou recusa devido à idade.
Na outra ponta, a taxa de conclusão do Ensino Médio até os 19 anos, em 2023, é de 68% entre os pretos, 66% entre os pardos e apenas 59% entre os indígenas. Entre os alunos brancos, esse índice é de 78%, e sobe para 88% entre os jovens amarelos.
A abordagem do tema étnico-racial e projetos pedagógicos para combater o racismo estão presentes em 50,1% das escolas públicas brasileiras, segundo dados colhidos no Saeb de 2021. É a menor taxa da série histórica, desde 2011.
Em relação às escolas indígenas, o percentual que utiliza materiais pedagógicos próprios para Educação Escolar Indígena era de apenas 37,9%, em 2023.
Etapas da Educação Básica - todas as redes
Educação Infantil
Crianças de 0 a 3 anos que frequentam a Educação Infantil, por raça/cor – Brasil (em %)
Branca | |
Preta | |
Parda | |
Amarela | |
Indígena |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2013-2015 / Pnad Contínua (módulo Educação) 2016-2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Educação Infantil
Crianças de 4 e 5 anos que frequentam a Educação Infantil, por raça/cor – Brasil (em %)
Branca | |
Preta | |
Parda | |
Amarela | |
Indígena |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2013-2015 / Pnad Contínua (módulo Educação) 2016-2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Educação Infantil
Crianças de 0 a 3 anos que não frequentaram a Educação Infantil por faixa etária, em 2023, de acordo com os motivos apontados pelos responsáveis, por raça/cor – Brasil (em %)
Raça/cor | Não frequentam por alguma dificuldade de acesso | Não frequentam por opção dos responsáveis | Não frequentam por outros motivos |
---|---|---|---|
Branca | 17% | 37% | 4% |
Preta | 20% | 30% | 3% |
Amarela | 25% | 17% | 11% |
Parda | 23% | 37% | 3% |
Indígena | 26% | 31% | 2% |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua Educação 2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
1
As estimativas levam em consideração a idade em anos completos em 31 de março, ou idade escolar.
3
Dificuldade de acesso é definida por: falta de escola/creche ou escola distante; falta de vaga na escola/creche; e escola/creche não aceita a criança por causa da idade.
4
Outros motivos incluem: falta de qualidade ou segurança das creches para com crianças com deficiência; problema de saúde permanente da criança; falta de dinheiro para mensalidade, transporte, material escolar etc.
Educação Infantil
Crianças de 4 e 5 anos que não frequentaram a Educação Infantil por faixa etária, em 2023, de acordo com os motivos apontados pelos responsáveis, por raça/cor – Brasil (em %)
Raça/cor | Não frequentam por alguma dificuldade de acesso | Não frequentam por opção dos responsáveis | Não frequentam por outros motivos |
---|---|---|---|
Branca | 2,0% | 2,9% | 0,7% |
Preta | 2,6% | 2,2% | 0,6% |
Amarela | 4,4% | 3,9% | 0,0% |
Parda | 2,5% | 2,9% | 1,1% |
Indígena | 7,1% | 3,7% | 0,5% |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua Educação 2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
1
As estimativas levam em consideração a idade em anos completos em 31 de março, ou idade escolar.
3
Dificuldade de acesso é definida por: falta de escola/creche ou escola distante; falta de vaga na escola/creche; e escola/creche não aceita a criança por causa da idade.
4
Outros motivos incluem: falta de qualidade ou segurança das creches para com crianças com deficiência; problema de saúde permanente da criança; falta de dinheiro para mensalidade, transporte, material escolar etc.
Ensino Fundamental
Crianças e jovens de 6 a 14 anos matriculados na escola, por raça/cor – Brasil (em %)
Branca | |
Preta | |
Amarela | |
Parda | |
Indígena |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2013-2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Ensino Fundamental
Crianças e jovens de 6 a 14 anos matriculados no Ensino Fundamental, por raça/cor – Brasil (em %)
Amarela | |
Branca | |
Indígena | |
Parda | |
Preta |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2013-2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Ensino Fundamental
Jovens de 16 anos que concluíram o Ensino Fundamental, por raça/cor – Brasil (em %)
Amarela | |
Branca | |
Indígena | |
Parda | |
Preta |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2013-2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Ensino Médio
Jovens de 15 a 17 anos matriculados na escola por raça/cor – Brasil (em %)
Branca | |
Preta | |
Amarela | |
Parda | |
Indígena |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2013-2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Ensino Médio
Jovens de 15 a 17 anos matriculados no Ensino Médio, por raça/cor – Brasil (em %)
Branca | |
Preta | |
Amarela | |
Parda | |
Indígena |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua Educação.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Ensino Médio
Jovens de 19 anos que concluíram o Ensino Médio, por raça/cor – Brasil (em %)
Branca | |
Preta | |
Amarela | |
Parda | |
Indígena |
Fonte:IBGE/Pnad Contínua 2013-2023.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Educação de Jovens e Adultos
Matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede pública, por raça/cor – Brasil (em milhares)
Branca | |
Parda | |
Preta | |
Indígena | |
Amarela | |
Não Declarada |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Sinopses do Censo Escolar.
Elaboração:Todos Pela Educação.
65
Consideraram-se matrículas de EJA Fundamental, EJA Ensino Médio, FIC níveis Fundamental e Médio e Curso Técnico Integrado a EJA de Nível Médio.
Gestão
Erer em pauta
Escolas da rede pública com projetos sobre relações étnico-raciais/racismo – Brasil (em %)
Ano | Projeto Relações étnico-raciais/racismo (SIM) | |
---|---|---|
2011 | 66,7% | |
2013 | 68,8% | |
2015 | 75,6% | |
2017 | 72,5% | |
2019 | 52,2% | 52,2% |
2021 | 50,1% |
Fonte:MEC/Inep/Daeb - Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Elaboração:Todos Pela Educação.
66
A partir do questionário de 2019 do Saeb, houve uma mudança no enunciado do item de "Nesta escola, há projetos nas seguintes temáticas: Racismo" para "Nesta escola, há projetos com as seguintes temáticas: Relações étnico-raciais/Racismo".
Erer em pauta
Secretarias de Educação que adotavam medidas para combater o racismo, em 2021 – Brasil
84 %
dos municípios
89 %
dos estados
Fonte:Fonte: IBGE/Munic e Estadic 2021.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Educação Escolar Indígena - Rede Pública
Matrículas em terras indígenas – Brasil (em milhares)
Ano | Total de matrículas | Matrículas de pessoas indígenas |
---|---|---|
2013 | 220150 | 171277 |
2014 | 219310 | 171409 |
2015 | 230151 | 182698 |
2016 | 232593 | 189137 |
2017 | 241838 | 197861 |
2018 | 243510 | 207418 |
2019 | 253117 | 217656 |
2020 | 250884 | 217252 |
2021 | 267294 | 231930 |
2022 | 275035 | 237878 |
2023 | 276526 | 241629 |
Municípios com matrículas de pessoas indígenas
Ano | Municípios com matrículas de pessoas indígenas |
---|---|
2013 | 392 |
2014 | 394 |
2015 | 379 |
2016 | 389 |
2017 | 399 |
2018 | 404 |
2019 | 427 |
2020 | 420 |
2021 | 418 |
2022 | 436 |
2023 | 438 |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Microdados do Censo Escolar.
Elaboração:Todos Pela Educação.
67
As matrículas em questão foram computadas em escolas localizadas em terras indígenas. O item matrículas de pessoas indígenas diz respeito às matrículas de estudantes de etnicidade indígena.
58 %
dos municípios que possuem comunidades indígenas não desenvolvem projetos voltados para a Educação Escolar Indígena.
Fonte:IBGE/Munic 2021.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Escolas indígenas que possuem itens de infraestrutura básica, em 2023 – Brasil (em %)
Itens de infraestrutura | Percentual de escolas indígenas |
---|---|
Água potável | 71,2% |
Banheiro | 59,5% |
Cozinha | 64,8% |
Energia - rede pública | 56,6% |
Esgoto - rede pública | 2,1% |
Coleta de lixo | 12,1% |
Reciclagem | 11,6% |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Microdados do Censo Escolar.
Elaboração:Todos Pela Educação.
38 %
das escolas indígenas utilizavam materiais pedagógicos para a Educação Escolar Indígena, em 2023.
Fonte:MEC/Inep/DEED - Microdados do Censo Escolar.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Educação Escolar Quilombola - Rede Pública
Matrículas em terras quilombolas – Brasil (em milhares)
Ano | Matrículas de pessoas quilombolas |
---|---|
2013 | 221058 |
2014 | 233003 |
2015 | 235016 |
2016 | 235463 |
2017 | 247823 |
2018 | 249496 |
2019 | 273403 |
2020 | 260087 |
2021 | 280275 |
2022 | 283020 |
2023 | 278030 |
Municípios com matrículas de pessoas quilombolas
Ano | Municípios com matrículas de pessoas quilombolas |
---|---|
2013 | 544 |
2014 | 595 |
2015 | 592 |
2016 | 610 |
2017 | 620 |
2018 | 628 |
2019 | 668 |
2020 | 658 |
2021 | 671 |
2022 | 682 |
2023 | 690 |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Microdados do Censo Escolar.
Elaboração:Todos Pela Educação.
37 %
dos municípios brasileiros que possuem quilombos não desenvolvem projetos voltados para a Educação Escolar Quilombola.
Fonte:IBGE/Munic 2021.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Escolas quilombolas que possuem itens de infraestrutura básica, em 2023 – Brasil (em %)
Itens de infraestrutura | Percentual de escolas quilombolas |
---|---|
Água potável | 87,7% |
Banheiro | 96,7% |
Cozinha | 97,4% |
Energia - rede pública | 96,0% |
Esgoto - rede pública | 8,7% |
Coleta de lixo | 35,9% |
Reciclagem | 7,1% |
Fonte:MEC/Inep/DEED - Microdados do Censo Escolar.
Elaboração:Todos Pela Educação.
Agir com propósito e compromisso: o caminho para a equidade étnico-racial na Educação Brasileira
As conquistas sociais recentes no campo da Educação, especialmente no combate às desigualdades raciais, são notáveis. Essas vitórias têm origem na Declaração da III Conferência Mundial contra o Racismo (Durban, 2001), cujos princípios resultaram em alterações significativas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Essas mudanças destacam a obrigatoriedade do História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e africana nas escolas, além de estabelecer parâmetros para a Educação Indígena e Quilombola.
As mudanças visam eliminar práticas racistas e discriminatórias que impactam negativamente estudantes negros, perpetuando um ciclo de desigualdade que vitimou gerações anteriores e restringiu o desenvolvimento de suas potencialidades. Paralelamente, buscam corrigir práticas discriminatórias que favorecem, desproporcionalmente, estudantes brancos e perpetuam um legado de privilégios intergeracionais.
Como evidenciado no documento "Equidade Étnico-racial na Educação", algumas diretrizes mostram-se imperiosas e promissoras:
Melhorar as infraestruturas das escolas em áreas predominantemente negras é crucial para garantir um ambiente de aprendizado adequado, equipado e acolhedor, promovendo a qualidade do ensino e a autoestima dos estudantes;
Assegurar um corpo docente qualificado é igualmente fundamental. Programas de formação continuada e incentivos para atrair professores bem preparados, capacitados e conscientes do seu papel na luta antirracista são essenciais;
Promover a diversidade no corpo docente e nas administrações escolares é vital para criar um ambiente educacional inclusivo. Programas de incentivo e políticas afirmativas aumentam a presença de profissionais negros, quilombolas e indígenas em posições de liderança, eliminando a falta de representatividade histórica;
Revisar o currículo para incluir a História e a Cultura Afro-Brasileira enriquece o conhecimento dos estudantes, valoriza suas identidades e promove o respeito mútuo;
Criar ambientes escolares que valorizem a diversidade e promovam a inclusão de todos os estudantes, encorajando iniciativas antirracistas, com a participação ativa da comunidade escolar, sobretudo dos responsáveis, fortalece o compromisso com a equidade racial.
Fundados em compromisso e coletividade, conquistaremos uma Educação de qualidade para todos. Somente assim poderemos garantir equidade na Educação. Devemos agir sem demora.
Professora Dra. Eliane Cavalleiro
Diretora Pedagógica do Instituto Cultural Steve Biko